quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A virtuosa e a malvada. Uma narrativa de factos alternativos.

Ponham-me essa noite eleitoral a bombar!... Olé!

Foi o grande Paulo Portas, o inventor da regra política do «1º, 2º e 3º» que definiu o princípio cardinal (também no sentido do circo) das vitórias eleitorais: as eleições ganham-se nas proclamações de vitória e nos comentários televisivos da noite eleitoral.
Da mesma forma, António Costa, sem qualquer escrúpulo político, decidiu transformar a noite autárquica numa «imensa vitória do partido socialista e numa retumbante derrota da direita».
Às 10 horas da noite, Costa proclamava a imensa vitória socialista e as gigantescas vitórias em Lisboa e no Porto. Ajudou muito a esta «narrativa» que a essa hora, o STAPE estranhamente ainda não tivesse dado resultados fiáveis e que todas as declarações partissem de sondagens marteladas que apenas reflectiam o desejo de quem as encomendou.
A esmagadora maioria dos portugueses deitou-se a pensar que Fernando Medina tinha ganho Lisboa com uma maioria absoluta reforçada e que no Porto, o … seja lá quem for que era candidato socialista, tinha ganho, ou no mínimo… tinha ganho, uma vez que a direita tinha sido retumbantemente derrotada!
Esta sensação percorreu os jornais do dia seguinte em que as luminárias de esquerda aproveitaram para verter o seu verdete: no Público, São José Almeida e David Diniz em editorial escreviam «o PS leva quase tudo: volta a conseguir a maioria absoluta em Lisboa…»; Francisco Loução, mais afoito, como deve, proclamou «o PSD afunda-se e o PS ganha. Em Lisboa e Porto o PSD ronda os 10% enquanto o PS reforça a sua maioria autárquica.»; o inefável Rui Tavares reforça: «Fernando Medina ganhou em Lisboa com um dos melhores resultados de sempre na capital».
O mesmo Tavares, fino e livre pensador, dá o mote da coisa mais à frente: «de passagem, António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins são também vencedores da noite e mesmo mais do que isso: … Boas notícias para a esquerda, más notícias para a direita», mas «o CDS por seu lado vai clamar vitória. Assunção Cristas teve um bom resultado em Lisboa e ultrapassou o PSD. Mas que significa isso para lá da rivalidade fratricida com o PSD? Nada. O CDS pode ter três vereadores … (mas) em freguesias de Lisboa o CDS contará pouco ou nada» e mais: «o PCP pode ultrapassar o PSD em Lisboa»…
Já João Miguel Tavares, pesaroso, lamentava ver «nem nos piores sonhos… a hipótese de Teresa Leal Coelho ficar atrás do Partido Comunista», porque «ver o PSD aterrar abaixo dos 10% em Lisboa e no Porto é inimaginável.»
Tavares tinha razão: era inimaginável e, claro, não aconteceu, a não ser nas declarações do Costa às 10 da noite e nos comentários escritos do dia seguinte.
Diga-se de passagem que nem pelo facto de estarem escritos os respectivos escribas pediram desculpa pelo monte de mentiras e disparates que escreveram. Não! Eles têm sempre razão, afinal, são eles que escrevem nos jornais.
Para tão distintos comentadores, o facto de o PCP ter perdido 10 Câmaras em 34, ou seja, quase um terço, mas de entre as maiores (Beja, Almada…) não conta: Jerónimo tinha de ser nesta guerra justa entre a virtuosa esquerda e a malvada direita, um vencedor.
Medina perdeu a maioria absoluta, 10% dos votos e 3 Vereadores? Ninguém viu, a virtuosa esquerda teve uma vitória retumbante.
No seu conjunto, «a direita» subiu vários pontos percentuais em Lisboa? Passou de 4 para seis Vereadores? Não pode ser. Toda a gente sabe que a malvada teve uma derrota nunca vista.
O facto de no Porto a «malvada» ter tido entre o “independente” Rui Moreira, assessorado por luminárias do CDS e do PSD, e o PSD oficialista, mais de 60% dos votos e a esquerda menos de 35%, quer dizer alguma coisa a estes comentadeiros? Pelos vistos nada, porque a virtuosa teve uma vitória nunca vista e a malvada uma derrota retumbante.
Cá para mim, no Porto, a direita teve tantos votos que deu para o Moreira ter a maioria absoluta (esse sim, cresceu!) e ainda sobrou para o PSD oficial ter tido 13%. É obra. Mas que digo eu? Então a «virtuosa» não teve uma vitória nunca vista?
De Braga ou de Aveiro é melhor nem falar, porque é ponto assente que com as suas 98 Câmaras o PSD passou à irrelevância e à interioridade rural. E claro, em Oeiras, os três heterónimos do PSD tiveram em conjunto mais de 70% dos votos, mas aí não havia maneira de o PSD, “pour l’honneur” não apresentar um candidato oficial.
Tudo dito, o PS ganhou, sim. O PSD perdeu, também. Nem num caso nem no outro foram as vitórias esfuziantes nem a derrota sombria que a noite eleitoral nos garantiu, mas, lá está, o grande Paulo Portas é que tinha razão e os socialistas melhoram a versão da coisa: põem o STAPE a colaborar na mentira oficial.
Este é aliás o modus operandii dos socialistas, bem rodado pelos actuais membros do governo quando colaboravam estreitamente com José Sócrates no saque do País: enxamear as instituições oficiais dos seus oficiosos e garantir que a mentira oficial é corroborada por todos. Quem desalinhar, leva.
É por isso que a compra da casa de Fernando Medina e o concomitante ajuste directo e milhões de euros de obras à Teixeira Duarte foi proclamado um «gato morto» pelos comentadeiros do regime. É por isso que a compra da TVI pela Altice nunca mais é validada pela Autoridade da concorrência; é por isso que a verdade sobre Pedrógão Grande nunca mais sai… Sem que isso incomode, aparentemente os «powers that be» dos media portugueses.

À atenção dos jornalistas sérios: investiguem lá essa coisa estranha de os resultados de Lisboa só terem saído às 4 da manhã…

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